Momentum Perpetuum



Dia 1 de Janeiro 2010, 18h, Casa da Música.

Nunca, por iniciativa minha, iria sair do sofá no primeiro e mais ressacante dia do ano. Mas família é família e a minha pequena prima Mafalda parece gente agora, com 17 anos, e toca violino naquela que é a "não-oficial" Orquestra Jovem Nacional. Chama-se Momentum Perpetuum e é organizada pelo maestro inglês Martin André e pelos próprios músicos que vêm dos diferentes conservatórios do país. Tudo sem um centavo do Estado Português, claro está. Razão porque somos o único país da Europa cuja Orquestra Jovem não é oficial.

Não sei nada de música clássica. Sou um leigo do mais baixo estatuto. E com que pena minha! Ao primeiro minuto, só conseguia pensar "como é que é possível ter chegado aos meus 22 anos sem nunca ter assistido a uma orquestra ao vivo?!".

A estreia mundial da composição "Yellow Story", de André Miranda, 20 anos, compositor residente da Casa da Música para 2010, deixou-me com os olhinhos a brilhar. Percebi ali que tinha que instituir um ritual. Começar cada ano com aquela paz envolvente que só a música dos grandes mestres pode trazer. Com vivaces, allegros, vibratos e tudo isso o que ainda não sei bem definir mas que consigo entender.

Depois veio Anton Dvorák e a minha viagem continuou, serena, doce, onírica. E depois energética, vívida, poderosa. E então desafiante, nocturna, fantástica.
Senti-me revigorado, novo, renascido, expurgado de todo o mal de um ano que acabava de passar. Eu sei que é só um marco no tempo, um dia no calendário. Mas faz parte da memória. É sempre "o ano em que" morre alguém, conhecemos alguém, vamos a algum sítio. A história que a música conta é sempre a nossa história, num qualquer momento. No passado e no futuro. Dá-nos o "closure" necessário sobre o que passou e, ao mesmo tempo, a vontade épica de fazer deste que aí vem o ano das nossas vidas.

Feliz 2010 a todos!

5 desocupados:

Sofia disse...

gosto de ler-te assim*

Manuel Martins Barbosa disse...

assim, sereno e zen? tb gosto*

Sofia disse...

sereno, zen e, sobretudo, maduro*

Andre Miranda disse...

Ainda bem que gostaste! Obrigado :) um abraço!

André Miranda

Bags disse...

Ainda bem que gostas-te de ouvir o concerto... A tua definição de "música" é fascinante.