Oh, tá enorme.

a sério.

Críticas de cinema, a partir de agora envio para um jornal. LOL niguém vai ler um texto de mil caracteres num blog.

Mas pronto, olhem, é a vida, não tenho mais para onde escrever =P

O parolo foi ao cinema

Já há uns tempos que não escrevia nada de jeito. O que não é garantia que o vá fazer agora. Mas as minhas recentes idas ao cinema, para ver o Anjos e Demónios e, ontem à noite, o Knowing, deixaram-me com vontade de partilhar. Ora, quanto ao Anjos e Demónios, hoje não me apetece muito. Passamos, por isso, ao thriller de ficção-científica e suspense de Alex Proyas.

Fui ver este Knowing ( em portugês, Sinais do Futuro) a saber quase nada do que se ia passar. Tinha Nicolas Cage, o que me despertou um bocadinho a vontade de me entregar ao desconhecido, na esperança de reencontrar o meu herói de adolescência, num género de filme parecido com os que me cativaram de inicio. Filmes como Face-Off e The Rock, ou como Family Man e City of Angels ou ainda o mais recente Matchstick Men.

Mas, se esperava algo dentro de algum desses géneros por parte de Cage, a minha expectativa acerca do que se ia passar foi rapidamente abandonada logo aos 10 minutos de filme. Do realizador Alex Proyas, vi o iRobot, com outro velho amigo, o Will Smith. Pensei em algo do género, virado para o futuro através de uma qualquer profecia do passado. Algo com acção, um bocadinho de intriga (o iRobot tem-na, e não é nada má) e ficava-me por aí. Engano meu. Este Knowing começava sombrio, vagamente perturbador, com uma fotografia excelente e detalhes visuais e musicais assombrosos. Recostei-me, à espera do que havia de vir.
Nicolas Cage é o pai de família dedicado e preocupado. É também um homem culto, professor de astrofísica e descrente em Deus e no propósito no mundo. Ele acredita, desesperadamente, na aleatoriedade, desde o dia em que a sua mulher morreu. Mas as suas convicções estão prestes a ser abaladas no dia em que, na abertura de uma cápsula do tempo que havia sido enterrada 50 anos antes, o seu filho recebe o estranho papel daquela que fora uma estranha criança. Esse papel, recheado de números, é um mapa temporal de tudo o que aconteceu desde essa data para
cá…e daí para diante.

Por esta altura, ao desenhar o filme na minha cabeça, a tal ideia de corrida contra o tempo para impedir a próxima catástrofe não encaixava no estilo denso de narrativa que se estava a construir. E não demorou muito a que as minhas suspeitas fossem confirmadas. Rapidamente o jovem filho de Cage começa a ser visitado por personagens que se escondem no nevoeiro do bosque, muito ao estilo de Shyamalan, e lhe entregam mensagens que vão aos poucos ficando cada vez menos ambíguas e mais assustadoras e reveladoras. O seu papel final, que obviamente não vou revelar, fica durante todo o filme envolto numa névoa assustadora, incorpórea, e que cria uma crescente atmosfera de incerteza no que toca a barreira do real-irreal, em situações e levantar os pêlos do pescoço a qualquer um de nós.

Mas apesar de toda essa força, Proyas tem uma excelente capacidade de colocar em segundo plano a linha de fundo do argumento, enquanto se vão desenrolando os acontecimentos que o pergaminho encerra. Quase que somos desviados para a componente da acção, e esquecemos esse lado sombrio, se não tivermos cuidado. E que cenas fantásticas de acção que este Knowing tem. De facto, as CGI (Computer Generated Images) ganham cada vez mais pontos no cinema e quando são feitas por estúdios de qualidade são tão verosímeis que até assusta. Mas voltando ao filme, não é durante muito tempo que fugimos ao essencial, uma vez que a convergencência das várias intrigas secundárias se torna incontornável. E aí, quando nos começamos a aproximar do final, vamos começando a ficar receptivos a um fecho que certamente vai fugir ao campo do palpável e do compreensível.

Visualmente, e tal como já escrevi, o filme é muito bom. Os jogos de luz e de sombra, a acompanhar sempre o estado de espírito do momento são de um acerto incrível. Desde o seu lado mais sombrio até ao ofuscante brilho do Sol quando abraça a camada de Ozono, garanto que vos fica na cabeça. Mas mais do que isso, o que me prendeu realmente, desconcertantemente, foi a música. Já há muitos anos que não via um filme de suspense com a sonografia tão bem escolhida e montada. Prende. Mesmo, daquele prender fortíssimo, à antiga, à Hitchcock. Tudo junto, com a excelente performance de Cage e dos miúdos, temos um resultado final muito melhor do que o esperado, e que não nos deixa descolar do ecrã.

Porque no fundo de toda a acção, Proyas consegue introduzir a sempre difícil temática da criação, do futuro e do passado. Da imensidão do cosmos e da sua intemporalidade. Fiquei feliz ao ver pozinhos de Shyamalan ao longo de todo o filme. E gostei de um final que me levou de novo ao Artificial Intelligence de Spielberg. Gosto da imaginação de Proyas e da coragem que tem para a trazer para o grande ecrã. O filme não é, de todo, uma obra-prima, é bom que isso fique claro. Mas é um tipo de filme que faz falta, a ficção-científica e a realidade e a teologia precisam de evoluir juntas, de se cruzar, de nos fazer imaginar mais e mais. Porque, na verdade, sabemos hoje que há muito mais coisas possíveis do que impossíveis de acontecer neste planetazinho que deriva à sua sorte, há ziliões de anos, num cantinho infinitamente pequeno do Universo.