Começar 2.0

Um ano, dois posts. Triste, triste homem. Devia ter tido vergonha e apagado de vez o blogue, mas preferi manter essas duas "lembranças".
Um ano, e dois angulos. Triste, Triste homem. De novo. Descobri algo que não gostei e contra o qual vou lutar: tenho em mim escondida a alma de um homem fácil de contentar, com um cérebro embrutecido e que contamina a minha sanidade mental (a minha outra).

Descobri que, enquanto estou na ilha, sou diferente. Durante muito tempo, recusei-me a acreditar nesse facto, mas o regresso a casa foi pródigo em revelações. Pensei que, entrando em Medicina, tinha tudo. Curso, amor, amigos, família. Tudo a bater certo. E com uma vida nova, nada me podia escapar. Devia ter tido mais cuidado nos caminhos que segui. Porque a noçao de "vida nova" vem ligada à substituiçao da vida que se deixou para trás. Uma pessoa, uma vida.

Errado. Não se deixa para trás uma bagagem tão grande como vinte anos de vida. "Vida nova" teria que ser uma que se encaixasse nessa, e não uma substituição. Não percebi isso a tempo. E de repente, vi-me com duas vidas para gerir. Madeira, pérola do atlântico, onde vive o Manel despreocupado, sozinho no mundo, vive para os amigos, para a faculdade, para um universo pequeno e restrito e simples. É um Manel feliz.

E é egoísta, e vazio, e simplório, e preguiçoso e só. Dá-se bem com isso porque não pensa nisso. São muitos, os estímulos disparados de todas as direcções que fazem com que pensar seja relegado para a noite, na cama, a olhar pro tecto. Mas o cansaço ao fim do dia é tanto que até esse clássico momento em que cada um se vira para si é substituido pelo sono.

Cansei-me disso. Cansei-me porque não quero mais ser egoísta, para o resto do mundo e para mim. Este blog é o reflexo disso. Durante um ano, fiz dois posts. O primeiro, quando ainda era o velho Manel. O segundo, num momento de lucidez raro. Quero mudar. Quero pensar mais, quero sentir mais, quero sofrer mais a distância dos que me são queridos para poder amar mais a cada reencontro. Quero escrever sobre cinema, sobre música, e sobre mim. Quero mandar nos meus dias, e não esperar que eles mandem em mim, por fácil e agradável que seja.

Tal como no romance de Stevenson que me inspirou a mudar o blog, sinto que, querendo o bem, criei em mim uma dimensão paralela com que me dou mal. Mas da mesma forma que Jekyll lidou com Hyde, também eu me hei-de safar.
Uma vida simples, nas mãos de um homem complexo, dá mais problemas do que seria de esperar. Resolvê-los é a tarefa que tenho em mãos.

2 desocupados:

Unknown disse...

E, de repente, quinhentos mil anos depois, a Ina descobre o blogue do Manel. -.-'

Sara non c'e disse...

Não és tu que não tens de desgostar do Manel despreocupado e que não sente saudades de casa e das coisas que deixou cá. Nós é que temos! Tu tens é de aproveitar a oportunidade de fuga à rotina e às responsabilidades.. Isso tem prazo de validade, para preocupações e chatices e deveres profissionais/familiares/coiso tens tu a vida toda :P

Tu tens um blog!!!!!!!! isto é giro. Não kme despedi de ti :( Natalzinho agora né?
Muahs e beijufas saudosas. odeio-te :)*